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DIAMANTES FROM LAMA

Atualizado: 27 de set. de 2021

Artistas negros em ascensão, como Malcolm e Peroli, tem inspirado vários outros jovens de quebradas e carregado na sua arte o orgulho de serem de lá.



A ascensão juventude negra periférica. Revolução, orgulho e poder. Preto é lindo.

Quando dizemos “preto é lindo”, nos referimos a um amplo abraço da cultura e identidade negra. Apelamos a uma apreciação do nosso passado negro como um legado digno, que inspirou e inspira orgulho cultural nas conquistas negras atuais. Foca também no bem-estar emocional e psicológico. Esse movimento afirma penteados naturais como o afro e a variedade de cores de pele, texturas de cabelo e características físicas encontradas na comunidade afro-brasileira.


Mas, não é nenhuma novidade, pra quem é de lá, que a falta de acesso e recursos reina nos subúrbios brasileiros. Mas jovens, a todo momento acham uma brecha para “driblar” o sistema e de forma independente, conquistar e alcançar espaços que lhes foram negados por mais de 500 anos, escurecendo ambientes que antes eram totalmente embranquecidos.


A revolução periférica negra é constante e diária, validada desde a criança que acorda cedo para ir à escola onde acessa informação básica oferecida, até o jovem que aos 20 ainda permanece vivo - no país onde quase 80% dos mortos pela policia são negros - e fica até tarde no corre ou estudando de forma autodidata caminhos para um futuro menos desigual e um mercado mais representativo.


Um dos atos mais revolucionários é quando você está em uma posição que pode inspirar outras pessoas a mudarem a sua própria realidade, isso é poderoso, nos leva agir de forma coletiva e transformar o nosso meio, criar movimentos e nos fortalecer através destes. Pretos de quebrada em ascensão contribuem de forma voluntária e também involuntariamente para com seus iguais, seja através do poder aquisitivo adquirido ou apenas como inspiração por carregar o orgulho de ser quem é, das suas raízes, da sua história e vitórias.

Nessa linha de pensamento, escolhemos dois jovens negros de quebrada, Peroli e Malcolm, artistas em ascensão que tem carregado o orgulho de serem da periferia e a representando nos lugares mais distantes, dessa forma devolvendo para a comunidade a oportunidade de seus semelhantes sonharem sem limitações.





MALCOLM VL


19 anos - Ator, Modelo e Rapper.

Residente do Vila Rio, Região Norte de São Paulo.





Sobre ter crescido em um lugar com poucos acessos e recursos, você acha que isso te motivou a querer mais do mundo de alguma forma?


Sendo mais um dentro dos milhares de jovens periféricos, eu não encontrava outra saída a não ser me superar e transformar minha realidade em algo promissor e capaz de mudar não só a minha perspectiva como de quem estivesse a minha volta.

Você acha que o mercado artístico continua tendo dificuldades no quesito de pesquisar e inserir a real periferia em projetos culturais e publicitários?! Ou você acha que isso está mudando?

Estamos muito a quem do que poderíamos estar, ainda mais quando olhamos pra fora e vemos como pessoas pretas já ocupam realidades tão maiores que às nossas aqui no Brasil. Estamos mudando a passos lentos mas que não tem mais retrocesso..







O quanto da sua ancestralidade você vê presente na figura artística que você é hoje?

Quando você entende quem você é, de onde você veio, qual é a sua origem, muda totalmente a sua rota pra alçar objetivos e te da ambição de vida, te dá uma sensação de pertencimento esse é o poder da ancestralidade num jovem cheio de sonhos.

Você acha que ocupar lugares fora da bolha também é uma forma de revolução?

Eu acho uma revolução eu estar vivo aos 19 ter um pai preto vivo aos 45, mais da metade dos amigos dele já não estão vivos, somos a exceção da exceção. Sair pra cidade absorver tudo e trazer de volta pro bairro, essa é minha revolução







Teve algum momento da sua carreira em que você parou e se chocou por estar vivenciando aquilo, do tipo “Caralho, olha onde eu cheguei”? Todo o santo dia, acho que jamais irei me acostumar com isso, coisas desde uma publicidade na Argentina, como receber a notícia de que um grafite com a minha cara vai ser estampado nas paredes da minha área. Acho que nós já pediu muita licença pra entrar. Agora nois só quer viver isso tudo.











PEROLI


27 anos - Produtora Cultural, Curadora, DJ e Modelo.

Residente da Zona Sul São Paulo.




Crescer em um lugar com poucas oportunidades, você acha que isso te motivou a ir mais além daquela perspectiva?


Com certeza. Mas desde sempre, minha família sempre me deu um suporte, criando possibilidades. Todo curso, oficina, e atividades gratuitas que tinham na minha cidade quando eu era menor, lá estava eu fazendo inscrição e aproveitando ao máximo, eu sabia que aquele repertório iria contribuir bastante para o meu desenvolvimento no futuro. Fui de aulas de dobradura, oficinas de teatro, cursos de audiovisual, até aulas de canto e coral na igreja.


Qual a sensação de ter vindo da “lama” mas estar brilhando em veículos de mídia na Europa?


Sentimento de que estou no caminho certo! Especialmente por fazer muita coisa sem ter modelos de pessoas que fizeram antes ou referências. A jornada é um tanto quanto solitária, mas ao mesmo tempo tive bastante ajuda de amigos no começo, e sou extremamente grata por isso. Aconteceu tudo muito rápido, com consistência, mas ter esse reconhecimento é gratificante demais!






Sua família e seus ancestrais somaram como motivação para sua ascensão na música e na arte?


Sim, 100%. Tanto na parte do suporte, quanto na motivação em poder oferecer o melhor para eles. É o objetivo principal do meu corre.


Você acha que estender sua música para lugares fora da quebrada, seja no centro, outros estados ou países, também é uma forma revolucionária de ação?

Com certeza. Ainda mais se listar o fato de eu ser negra, mulher, em ambientes que foram negados a mim, e ainda são de certa forma. Sempre falo que, a minha imagem e o meu corpo presentes são atos revolucionários. Poder ocupar cada vez mais esses espaços é além de conquista pessoal, é ter em mente a responsabilidade de que tenho o poder de abrir caminhos para outras pessoas também.












Já passou por um momento em sua carreira de que você se orgulhou muito e nem acreditou no ocorrido? Conta pra gente!


Cada conquista é um flash, né? Tô tentando vibrar com tudo o que tem acontecido, aproveitar cada refresco. Mas de fato tenho duas conquistas que foram demais pra mim, a matéria da Pitchfork, e meu guestmix pro programa do DJ Target na BBC 1Xtra sem dúvida foram os pontos altos nos últimos meses.


Você compartilhar o backstage, o palco, camarim e eventos com pessoas tão relevantes para a cena periférica atualmente é incrível, você já trabalhou com alguém que sempre quis? E você sonha em trabalhar com alguma pessoa em específico? Seja em qualquer lugar do mundo.

Pra mim sempre foi importante mostrar o corre sempre, por não querer passar aquela impressão de que tudo vem fácil, sabe? Acho que todos os trampos que fiz até hoje foram com pessoas que eu admirava de certa forma. A campanha para UMBRO foi uma delas, não somente falando dos modelos, mas da galera que tava na equipe também. Eram todas pessoas queridas que conhecia já de longa data mas não tinha tido a oportunidade ainda. Foi incrível. Agora, alguém que eu gostaria de trabalhar, é difícil pois tem muitas. Mas uma que eu gostaria de pelo menos conhecer e poder conversar é a Grace empresária do Skepta, seria tudo!









DIRECAO DE ARTE E FOTOGRAFIA POR ANDRÉ BORGES, ESTILO POR GABRIEL MARIZ, PRODUCAO E VIDEO POR CAMILA ALDA, ACERVO DA FITA CORP.



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