Conheça a história de duas mulheres, artistas pretas e mães que se dividem entre o corre da arte e da maternidade com vigor, repassando com amor seus conhecimentos ancestrais, de vida e das ruas para seus filhos e filhas.
Nos livros muito se fala sobre pais trabalhadores das fábricas e dos campos, mas se diz muito pouco sobre quem sustentou os afetos, quem acompanhou no dever de casa, quem segurou a onda quando o pai sumia, quem dava um abraço quando precisava. O papel da mulher no corre cotidiano das famílias pobres é essencial, elas são do tipo que estão sempre em casa, mantendo contato com a vizinhança, desde o início do século 20. Não haveria uma relação de vizinhança íntima como temos nas periferias até hoje sem elas, mães ou não. Que as mulheres representam a maioria da sociedade brasileira não há dúvidas. Segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) mais recente, de 2021, a população brasileira é composta por 51% de mulheres, ou seja 4,8 milhões delas... Apesar de estar a frente em quantidade populacional, historicamente são afetadas pela cultura e política machista e patriarcal, e seguem na luta por igualdade de direitos. Desvalorizada ao longo da história, é hoje quem mais sustenta as casas, provedoras, correria pura. Portanto, homens, melhorem! E um brinde a essas maravilhosas!
Mãe faz tudo, além de coisas de sua responsa! Enquanto homens héteros procuram o equilíbrio entre carreira e cuidado com os filhos, mães artistas transformam seu processo criativo a partir da maternidade. Ser mãe é sempre um desafio. Para as mães das periferias, um desafio ainda maior. Não existe babá pra olhar a cria e nem empregada para cuidar da casa. É tudo no peito da mãe.
E não seria diferente com Kingdom, cria do Conjunto Sandoval de Azevedo, localizado entre o Industrial e o Barreiro, em Contagem região metropolitana de BH. Thaís ou DJ Kingdom, além de mãe, é uma multiartista, atuando na música como produtora musical, DJ e como produtora cultural, idealizando seus movimentos artísticos como a MUVUKA 031, BAILE ROOM e a BRONKA.
Thaís se formou em Educação Física e já passou por vários trampos, mas se encontrou mesmo na música quando viu seu potencial e uma pequena oportunidade de mercado para continuar contribuindo com o sustento de sua família e consequentemente furando bolhas sociais nas quais ela vivia, já que cresceu na quebrada e passava a maior parte do seu tempo por lá.
O nome de suas filhas refletem no seu interesse por música e artes visuais, já que o nome de uma delas se remete a um filme (CORA) e o outro a uma das maiores artistas mulheres de todos os tempos (ALICIA). Julia Belo, também é uma das protagonistas do nosso projeto, cria da Zona Nordeste de BH, mulher preta, fisioterapeuta, e b-girl/balairina integrante do ballet do Djonga, um dos artistas mais importantes da cena contemporânea. Mãe do Luan, de 5 anos, vive no corre de conciliar casa e trabalho, mesmo dividindo suas tarefas com seu parceiro, Paulinho, o esforço para poder ser mãe e artista é notável, e Julia faz parecer fácil, mesmo todos sabendo que não é. Neste caminho, com o objetivo de fortalecer as discussões sobre a importância da mulher na sociedade, proporcionando condições para a conscientização dos desafios que são enfrentados por elas, lançamos o projeto "GERAÇÕES - MÃES SUBURBANAS" com foco nas mães trabalhadoras das artes, nosso projeto desenvolve uma série de dois encontros e um mapeamento voltado para este público.
Fizemos um editorial especial para o dia das mães com essas artistas de periferia sobre alguns temas persistentes para mulheres pretas que trabalham com arte, e ainda conseguem conciliar todo o corre de maternidade, saúde mental, vida social e afetiva.

















