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PATRIMÔNIO SUBCULTURAL

Atualizado: 27 de fev. de 2022

Com um olhar mais sensível sobre juventude periférica contemporânea, em nosso projeto “PATRIMÔNIO SUBCULTURAL” exploramos a Zona Norte de Belo Horizonte buscando valorizar espaços, jovens, ideias e criações suburbanas que por muita das vezes são marginalizadxs pela sociedade.



O espaço urbano através da divergência entre necessidades e interesses de membros da nossa sociedade possui algumas contradições, e elas geram conflitos contribuindo para a nossa separação de espaço geográfico. Nesse sentido, o espaço se cria marginalizando lugares e indivíduos, valores feitos a um dado lugar seja de ordem econômica, política, esportiva ou cultural contribuindo assim para marginalizá-lo da rede de lugares ao qual se vincula (De patrimônio).


Essa marginalização espacial ocorre em um contexto de globalização perversa, onde a exploração do homem pelo homem é notável até em espaços públicos, que NÃO acontece de forma aleatória, mas imposta por benefícios de grandes agentes capitalistas. Isso nos faz refletir: Quem realmente é cidadão? Quem de fato vive e quem sobrevive na cidade? Que tem seus direitos ouvidos de forma plena?


O preconceito contribuiu para que esses lugares nos subúrbios sejam os principais locais de conflitos sociais por serem considerados “de risco”.


Sabem aqueles locais em que, para você que é de quebrada, tem uma importância? Seja ela emocional, por vivências ou apenas um lugar da sua área que você curte por um motivo específico? Esse local até pode ser marginalizado por X motivos, mas sabemos que ali ferve intensamente uma vivência cultural única, marcante, e com um valor social significativo.


Sendo assim, decidimos mudar a perspectiva de olhar sobre esses espaços, celebrar e explorá-los ouvindo histórias vivenciadas pela juventude artística residente que são ligados a esses lugares de alguma forma.


Para o nosso projeto mensal principal PATRIMÔNIO SUBCULTURAL, convidamos o artista, grafiteiro e desenhista Messias Souza (Vulgo Menoh) e a publicitária, artista visual e produtora Rhuama para dialogarmos sobre esses locais próximos de suas casas e que possuem valor para ambos, e lá descobrirmos mais sobre os talentos da juventude que está ocupando e representando.



RHUAMA

Publicitária e Artista visual






Qual a importância para você sobre esse lugar que selecionou próximo da sua área?


Bairro São Bernardo foi o bairro que morei na infância e mesmo depois que eu e minha família nos mudamos, nunca saímos de lá por causa do restante da família que mora lá até hoje, amigos e a igreja que a gente frequentava. Essa região do campo São Bernardo, entrando ali na Vila Aeroporto (Ilha) é onde tenho mais memória afetiva em relação ao meu avô, família e amigos de infância. Além disso, é onde fica o centro cultural que tive os primeiros contatos com a arte de uma forma geral.


Quando você nasceu, seus pais já viviam na ZN? Você sabe como foi essa escolha de morar no bairro?


Meus pais foram criados no bairro e se conheceram em uma igreja do bairro. Não sei muito bem a história, só sei que meus avós chegaram aqui na construção do bairro mesmo quando várias famílias começaram a sair das cidades do interior atrás de oportunidades. Inclusive meu avô paterno foi presidente da associação do bairro por anos.






Que lembranças da infância você tem do São Bernado?


Minhas lembranças de infância são basicamente todas pelo bairro. Tanto nas duas casas dos meus avós, quanto na rua. Lembro de passar várias tardes no Centro Cultural lendo e fazendo aula de circo e depois de um tempo, minha mãe criou um projeto social no bairro para ajudar o "para casa" de algumas crianças e minha infância era brincando com as crianças do projeto, correndo pelo campo verde e campo são bernardo, apostando quem tacava pedra mais distante no córrego e por aí vai.


O quanto de mudança você percebe no bairro nesses anos de vivência? Você ainda acha que ele é periférico?


Sim, a prefeitura indenizou a maior parte das pessoas e fez um projeto de verticalização, mas mesmo assim continua periférico pela estrutura socioeconômica e segregação socioespacial (bem escancarada, por sinal).


Você se considera uma mulher da periferia?


Me considero periférica sim pela vivência, por morar em bairros periféricos mas também reconheço que tive uns privilégios em relação ao meu estudo, por exemplo, em relação as outras crianças que vivem próximas a mim.








Quais são suas práticas de autocuidado? O que acha que, mulheres negras e periféricas, podem fazer para se auto cuidarem neste 2022?


Autocuidado para mim vai além de cuidado físico. Hoje tenho me aproximado de mim mesma, me conhecendo melhor e buscando um equilíbrio da minha saúde mental, emocional e física. Esse ano de 2022, meu mantra de autocuidado tem sido fazer o que for necessário para me manter estável, mesmo que isso signifique me retrair. Entender que estou exposta a várias situações chatas, mas não estou à mercê delas, não estou pedindo licença para ninguém para chegar onde eu quero chegar.


Se o governo fosse mais empático com jovens artistas, e tivesse um centro cultural no seu bairro, seria mais fácil realizar seu trabalho de alguma forma?


Com certeza! Os oficineiros dos Centros Culturais são muito competentes e fazem milagres com a estrutura que a prefeitura oferece. Além disso, os ensinamentos que temos ali dentro nos dão uma base muito foda como artistas e nos formam como seres humanos com visões que levamos para o resto da vida.


Existem outros jovens na sua área como você, jovens talentosos que tem potencial mas nunca tiveram uma base de suporte. Você acha que seria possível mudar essa realidade? De qual forma?


Acho que a única forma de mudar essa realidade é dando acesso, oferecendo estrutura e oportunidade. O acesso possibilita a gente contar nossa própria história, nossa arte, a estrutura traz possibilidades e formas de contar essa história e a oportunidade nos faz mostrar ela para o mundo. Tem muito jovem foda lá dentro e fazendo arte com a pouca estrutura que existe e sendo impecável, so falta o direito de ser protagonista.






Deixe um recado para os jovens, moradores de outras periferias, que ainda estão construindo sua arte no mundo.


O que eu posso falar é o mesmo que repito para mim todos os dias: não desistir!


Essa semana li uma frase do Mirral falando "A arte me liberta, ser artista me deprime". Pra mim é foda fazer parte, estatisticamente, 1% de mulheres pretas audiovisual brasileiro, ter minha arte como meu ofício, mas a arte ainda é a única coisa que me salva todos os dias e tenho certeza que todo artista sente isso. Fazer arte pela arte e acreditar nela faz a gente acordar no outro dia, então acredita por que tenho certeza que o corre vai virar! E estrategicamente falando, se aproxime e trabalhe com outros artistas independentes, estuda e mete marcha.



MESSIAS (MENOH)

Artista, grafiteiro e desenhista




Que lembranças da infância você tem do Floramar e da ZN em si?


As lembranças que tenho da minha infância aqui na área são as brincadeiras com os amigos, o futebol descalço na rua de casa, os banhos de chuva... Qual a importância desse local que você escolheu para fotografarmos, o mirante do Tupi, para os jovens da sua área? Acho que a importância dele na quebrada é que se trata de um ponto de fuga da galera, pra esquecer um pouco dos problemas do dia a dia, fugir um pouco da opressão que é mais frequente em outros lugares do bairro.




O que você acha sobre as pessoas que em pleno XXI, ainda veem a favela como sinônimo de algo ruim, e resumem toda a comunidade apenas a criminalização? É chato isso, mas creio que eles veem dessa maneira porque a mídia só mostra os lados negativos das nossas comunidades, e com toda certeza quem tem esse tipo de pensamento preconceituoso nunca deve ter pisado em uma comunidade. Sua área tem potencial artístico? Cite alguns artistas que você conhece e cresceram em quebradas próximas a sua, ou até mesmo na mesma que você. Sim, acredito demais no potencial artístico da minha área, o que falta muitas das vezes é a falta de incentivo pros jovens ingressarem no meio artístico. Conheço vários artistas aqui da região dentre eles Bess que é minha referência, mas tem vários outros como Dgs, Rase...



O que você ouvia quando era moleque no seu bairro e o que você tem ouvido hoje? Na minha infância o Rap nacional e o funk consciente foram muito presentes, coisa que não mudou muito pros dias de hoje, são os dois gêneros que sempre escutei, no momento os artistas que mais gosto de escutar são Djonga, Major rd e Fbc. Tem alguma história sobre a opressão policial na sua área que te causou revolta?

Opressão policial na quebrada é fato diário, sempre tem e nos revolta. Acredito que não só eu, mas 90% dos jovens que vivem em comunidades já passaram por isso.





O seu trabalho mostra, na prática, o poder de transformação de vidas através da arte, você acredita que isso é possível? Que a arte salva? Claro que acredito que a arte salva vidas, a arte é a válvula de escape de muitos que conseguiram uma volta por cima através dela. A arte resgata várias crianças e adolescentes do mundo do crime/drogas, um exemplo é o programa fica vivo que existe em várias comunidades de BH.













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