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"TUDO DELAS, NADA DELES"

Atualizado: 24 de ago. de 2021

Evidenciando a importância das mulheres e o protagonismo na cena contemporânea de hip hop, convidamos as artistas Mayí e Camila Alda para compartilharem um pouco sobre os seus trabalhos e suas visões futuristas sobre o movimento.


Cindy Campbell, irmã do DJ Kool Herc (Considerado o "Pai do Hip-Hop"), foi a mente por trás da festa "De volta as aulas" no Bronx. Realizada no dia 11 de agosto de 1973, e a festa é conhecida como o marco do inicio do hip-hop. Quando falamos de Hip Hop, conhecemos a história de Kool Herc, DJ Master Flash, porém sempre há uma mulher que fica ao lado, ou as vezes atrás, criando e dando suporte ao homem que está recebendo crédito, ou elogios.


No Brasil a história não muda, quando lembramos dos pioneiros logo vêm os nomes de Thaide, Pepeu ou os Racionais MC’s, mas poucos se recordam de Sharylaine, seja por falta de conhecimento ou pelo um machismo escroto que, mesmo inconsciente, leva a esse apagamento das mulheres na historia do hip hop. Para reverter essa prática, nasceu o projeto “TUDO DELAS, NADA DELES”, convidamos a Rapper Mayí, e a Fotógrafa multiartista Camila Alda para compartilharem um pouco acerca de seus trabalhos incríveis que tem somado, transformado e construído pilares futuristas no cenário atual do Hip-Hop em Belo Horizonte, e no Brasil.



MAYÍ


Moradora do Aglomerado da Serra, quebrada situada na Zona Leste de Belo Horizonte. Atriz, Dançarina e Rapper, Mayí está imersa na arte desde a sua infância, além da sua carreira solo, soma no grupo do qual faz parte, a Fenda, e também atua em "Hit Parade" uma série de tv que se passa no Canal Brasil.







Como você descreveria sua personalidade? Sou sonhadora, mesmo sabendo que não vivo num conto de fadas. Sou sensitiva e perceptiva, mesmo parecendo ser cética. Gelo demais não rola também, tem que ter um fogo pra derreter essa treta. Sou cheia de vontade de aprender, muitas vezes vontade de viver muito, em outros momentos nem tanto. A vida ainda anda moldando a minha personalidade, é difícil se descrever né? E eu boto fé que é por esses F5 diários que acontecem comigo.

No que diz respeito à moda, como você descreveria seu estilo? Original é o termo escolhido. Meu estilo depende muito do mood que vou estar. Ainda não tenho tantas roupas, mas sempre faço mix diferentes com o que tenho. Não ligo muito pra o que as pessoas vão achar, penso mais em como vou me sentir usando tais peças.





Além de rimar, você também canta, dança breaking, afrohouse e outros ritmos, né? Como é sua relação com a dança e a música em si? Comecei na música com uns 13 anos, estudando percussão em um projeto social. Lá aconteciam aulas gratuitas de artes em geral, nessa época eu mergulhei por inteiro no meio da música, minha mãe investiu bastante e depositou muita credibilidade no trabalho que o projeto (B.O.T) fazia. Mesmo sendo menor sempre rolava de conhecer um bonde mais old que tinha muito conhecimento pra passar e eu me entregava a beça às descobertas musicais, sempre me ensinaram muito sobre a sensibilidade de entender o que cada tipo de som tem pra oferecer, mesmo existindo diferenças rítmicas. Sou muito grata a esses momentos, real.

Aos 17 descobri a dança. Depois de passar por momentos intensos aos 16, dei uma pausa com a música, a dança viu essa brecha e me agarrou. Descobri um amor imensurável por ela e mergulhei nos estudos. Comecei dançando HipHopFreestyle/HipHopDance, fazia parte de um grupo que competia em altas citys do sul e sudeste e o daora é que sempre estávamos no pódio. Dentre esses estudos descobri o house dance, por volta dos 18. Lembro até hoje da primeira música q foi me apresentada como House Music, “Superman- Black Coffee ft. Bucie” a clássica. Aprofundei os estudos porque era mais um tipo de manifestação artística preta que eu não conhecia, passava horas treinando pois o som batia bem demais aqui dentro, não conseguia resistir. A Arte tem disso, de disciplinar, pra que tem curiosidade sempre tem algo novo pra descobrir, tanto mentalmente quanto corpórea. O breaking chegou mais tarde, eu tinha uns 23/24, muito desafiador tá? Eu não me imaginava me equilibrando de cabeça pra baixo, nunca mesmo. E tipo, eu consegui. Assim como na época que comecei a tocar, não me via conseguindo improvisar nos instrumentos e depois de estudar beça, eu consegui. Tinha muito uma visão do que as pessoas sempre diziam, mesmo eu não vendo como vejo hoje em dia, eu não ligava e continua a persistindo no que eu queria fazer. Dança e música me inspiram muito a ser melhor tanto tecnicamente quanto espiritualmente, fraga? Elas jogam na sua cara que por mais que você seja muito boa, sempre tem como melhorar mais e mais.


O que te inspira mais a escrever, a tristeza ou a alegria? O amor ou o ódio? Não dá pra escolher um só. Esses sentimentos me inspiram muito na escrita. Eu sinto todos eles, não apenas um. Escrevo sobre o que vivo, sobre o que sinto. O lance é que pela fase que to vivendo, quando escrevo coisas “alegres” não soam como mentiras, ou fantasia, mas sim perspectiva do que quero pra mim. Assim como escrevo coisas que são tristes. Existem muitas histórias com sentimentos diferentes à serem contadas.







E do seu primeiro show de rap? Você ainda se lembra? Tá fresquinho na memória. Foi no evento Palco Hip Hop em um teatro de Ibitité. Tinham muitos amigos de BH e outros estados também. Fiquei muito nervosa, coração aceleradíssimo, mas me peitei a missão da melhor forma. O hip-hop hoje é onipresente, e a juventude está cada vez mais entrando nas suas vertentes. O que você acha que esses ‘iniciantes’ precisam saber sobre a cultura Pois bem, se você não vivencia a cultura, é bom que estude as vertentes, o início, quem fez acontecer e porque, como eram os lugares aonde aconteciam as movimentações, isso tanto no exterior quando aqui no Braza. Se você vivencia, fica mais fácil assimilar quando descobre os fundamentos. É sempre bom se atualizar também, saber como tá sendo o processo de lá até aqui, nos dias de hoje. Estude e o respeito prevalecerá, tem que saber aonde você pisa.








Seu último lançamento foi “REAI$” junto do paulista Malcolm, logo após soltar “Sedenta” em parceria com o Vhoor. Ambos com ritmos e mensagens bem distintas, porém ambas são músicas de peso! Quando você pretende lançar outro single ou álbum completo? Sim, são duas músicas com perspectivas diferente e eu amo isso. To cozinhando alguns sons e em Setembro teremos boa nova.




CAMILA ALDA


Moradora do Vila Duarte, bairro baseado nos subúrbios na Zona Central de Rio Acima. Fotografa, Designer, Produtora de Moda e mais, Camila fotografou varios nomes do hip hop brasileiro, além de desenvolver capas e participar de videoclipes de grandes renomes, ela possui uma relação afetiva com o hip hop, lembranças carregadas de sua infância e que contribuíram para a artista que ela é hoje.








Nos conte um pouco sobre o seu trabalho… ouvimos dizer que você é uma multiartista. Fotógrafa, Diretora de Arte, Designer, Set Designer, Trancista/Cabeleireira, Modelo, Atriz, Estilista e DJ. Qual desses foi o seu primeiro trabalho? E o último? Comecei em 2017 fazendo fotos de festas e making of de alguns clipes e a última profissão até então DJ e toquei num Festival de Nova Lima com um Dj Set e fazendo as dobras da Roxie. Você trabalha com muita coisa, né? Talvez poderíamos te definir como uma super artista. Onde você aprendeu todas essas funções? Você fez cursos ou aprendeu de forma autodidata? Comecei na fotografia sozinha, mas fiz um curso de Artes Visuais em 2014 no Valores de Minas que foi super importante pra tudo isso tudo que faço. Lá aprendi fotografia, composição de cena e história da Arte. Mais tarde em 2016 fiz faculdade de Design Gráfico o que me aproximou ainda mais da fotografia e edição de fotos que não tinha muito conhecimento. E um dos últimos e mais importante que fiz foi Produção de Moda, que aprendi ainda mais sobre cenário, styling e como funciona os bastidores da moda.













Como você conheceu o movimento hip hop? Por que você escolheu documentar o hip-hop através da fotografia? Alguma mulher que te inspirou? Meu contato com o Hip hop vem de muito cedo, quando ia pra casa da minha avó em Nova Lima ficava vendo o dia todo Video Traxx com minhas primas, dançando e tentando cantar as músicas da Beyoncé, Missy Elliott, Mary J Blige e Destiny Child's. Meu primo de Contagem ouvia muito T-Pain e me ensinava a baixar as músicas no 4shared e outros sites que tinham na época. E minha mãe era casada com um cara super fã de Sabotagem e esse foi o meu primeiro contato com Rap nacional. Acho que não escolhi documentar o hip hop mas o hip hop que me escolheu e me acolheu, lembro que o João que é um dos organizadores e idealizadores da festa Us! Me deu muito suporte e apoio para fotografar a festa, ele depositou em mim uma confiança que foi essencial pra minha caminhada. Depois disso eu só melhorei e comprei meus equipamentos. Acho que minha inspiração mesmo foi perceber que não tinha minas pretas fotografando festas na época e eu percebi que precisava fazer algo e motivar outras minas a fazer também. Qual a pessoa que você mais gostou de fotografar e por que?! Foi o show do Emicida no ano passado no Festival Sensacional. Eu chorava muito e a cada música que ele cantava eu chorava mais ainda. Foi uma emoção muito grande poder ouvir AmarElo ao vivo, poder contemplar essa benção e registrar esse momento.






Você tira muitas fotos de diferentes rappers, qual é um dos momentos mais loucos que você teve? Acho que foi fotografar o Matuê em um rolê que teve em BH em 2018, na época ele estava crescendo mas foi o show mais doido que fotografei e vi o público numa energia surreal. Você é uma mulher que é chamada para fotografar numa cena majoritariamente machista. Ser a única mulher no ambiente de trabalho já foi um problema para você ou para eles? Já foi um problema pra mim porque diversas vezes eu ouvi comentários horríveis sobre minhas fotos vindo de homens que fotografavam, já tentaram me "ensinar" como eu devia tirar fotos e já fui assediadas diversas vezes (até hoje rola isso). Sinto que alguns caras só conseguem enxergar como objeto e nunca como profissional, isso me deixou mais atenta às abordagens.





Você realizou o design da Capa do Álbum “Glória” da Rapper Iza Sabino e recentemente atuou no clipe da música “Se eu Falhei” do Pejota feat Chris. Você que sempre trampou (e ainda trampa) com a galera do real underground, e agora você está trabalhando em grandes projetos e com grandes nomes. Como está sendo todo esse processo? É extremamente gratificante pra mim ver que essas pessoas curtem meu trabalho e confiam na minha visão para esses trabalhos. Me sinto muito grata por estar conseguindo chegar longe com o que eu acredito e escolhi trampar. Foi difícil chegar até esse local, mas cheguei! Você acha que o futuro feminino do hip hip será perpetuado por mulheres multi artistas, assim como você? Com certeza! Isso possibilita a gente caminhar entre os espaços e deixar nossas contribuições neles. As minas tão dando um baile e se fortalecendo muito com o que vem criando.






Como você espera que os jovens do movimento estejam daqui 20 anos? Espero que estejam colhendo os frutos do que construíram agora. A gente tá em constante construção de espaço e identidade, hoje temos muitos acessos que antes só quem tinha grana podia acessar, e como pra nós não foi e não é tão fácil, a gente acaba se doando muito mais para fazer o que acreditamos e executando com muita excelência. Como DJ, quais gêneros sempre estão presentes em seus set’s? E quais são suas referências na área? Garage, Drum n Bass, Drill e Grime são os gêneros que eu tenho explorado nos meus sets atualmente. Minhas referências são minas maravilhosas que eu amo ver e ouvir tocaR... tem a Bebela, a Kingdom, a Pat Manoese, a Peroli e a Jacquelone.






Uma meta como artista? Me consolidar no mercado de fotografia e ajudar a contribuir e somar com mais artistas na cena do Rap, principalmente mulheres. E como DJ a meta é tocar em festivais fora e dentro do Brasil. Como você definiria a estética de Belo Horizonte hoje? BH tem uma estética muito diversa e tem vários tipos de estética, acho que não sei resumir em uma só. Mas a que eu mais vejo presente mesmo é da galera do Funk. Qual o seu lugar favorito na cidade atualmente? Meu lugar favorito na cidade tem sido a casa Fexa, que é onde a Roxie e a Maysa moram. Lá é um lugar onde a gente sempre desembola ideias, observa a cena e sempre procuramos produzir algo novo.












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